Jean Piaget

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Paulo Freire

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segunda-feira, 1 de junho de 2015

Mais que conteúdo, atividades fora de sala ensinam para a vida

Por: Carla Nascimento - cnascimento@redegazeta.com.br

Disponível em: http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2010/04/626907-mais+que+conteudo+atividades+fora+de+sala+ensinam+para+a+vida.html

Dentro da sala de aula, o aluno aprende a escrever, a contar, entende o funcionamento do próprio organismo, descobre a localização dos países e os fatos que marcaram a história. Mas o conhecimento adquirido fora dessas quatro paredes também tem um grande peso na educação. Uma criança ou um adolescente que frequenta aulas de dança, teatro, música – só para citar algumas das milhares de opções – ganha mais do que um passatempo. O reflexo dessa formação, chamada de extracurricular, pode ser observado desde a alfabetização até o vestibular. Cientes dessa responsabilidade, as escolas ampliam a cada dia o leque de cursos e oficinas. 

Para os pais, a tarefa mais difícil é escolher entre tantas alternativas. Robótica, Produção de texto, Biscuit, Pequeno cientista, "Luz, câmera, ação e diversão", Pintura a óleo sobre tela, Boneca de pano e Pequena estilista de moda são apenas algumas das oficinas oferecidas pelo Centro Educacional Leonardo da Vinci, em Vitória. 

Para Victor Afonso Biasutti Pignaton, diretor da escola, é preciso levar em consideração o grau de desenvolvimento da criança e a faixa etária antes de escolher. Uma conversa com o professor, e com a própria criança, pode ajudar na decisão. 

"Essas atividades são de extrema importância, pois proporcionam a oportunidade de a criança desenvolver habilidades que não são trabalhadas no cotidiano das disciplinas acadêmicas, além de oportunizar o conhecimento ora específico ora amplificado em algumas áreas diferenciadas, objeto de estudo destas atividades", opina.

No Centro Educacional Primeiro Mundo, também na Capital, o destaque fica por conta das oficinas de artes, música e esportes. "A tendência do mundo moderno é a comunicação virtual. As crianças acabam saindo da escola e se confinando no quarto, diante do computador e do videogame. As atividades extracurriculares permitem ao aluno conhecer outras pessoas, adquirir o próprio conhecimento, resolver problemas e superar as frustrações", afirma a coordenadora Pedagógica do Primeiro Mundo, Olga Maria Weiler.


Elas contam histórias e levam alegria a outros 
Aos 15 anos, as amigas Amanda Altoé Filgueiras e Brunella Curto Cristianes Lacerda fazem o que muita gente passa a vida inteira sem conseguir: levam alegria para crianças, adultos e idosos. Há cinco anos, elas participam de um grupo de contadores de histórias, atividade que ultrapassa os muros da escola e ensina muito mais do que elas poderiam aprender na sala de aula. "No grupo, aprendi a lidar com imprevistos. Além disso, me apresento em escolas, asilos e saio com uma sensação boa" diz Brunella. Já Amanda se tornou uma contadora de histórias para vencer o excesso de timidez. E conseguiu isso. "Além de aprender a lidar com público, passei a organizar melhor as ideias. Também ampliei meu vocabulário", relata a jovem.

Roda de conversa ajuda a reduzir evasão 
Um exemplo de que as atividades extracurriculares podem estar diretamente ligadas à formação oficial é o projeto "O Valor do Amanhã", desenvolvido dentro do Entre Jovens do Instituto Unibanco. Ele existe em 26 escolas públicas do Estado com o objetivo de reduzir a evasão escolar. "Um dos grandes problemas do ensino médio - nosso foco – é a evasão. Em nosso projeto, os alunos reúnem-se em grupos e trocam experiências por meio de rodas de conversa. A ideia é construir um projeto de futuro com esses jovens, mostrar quais são as decisões que eles tomam hoje e que afetam o futuro. O foco é na frequência e na permanência do ensino médio", explica a coordenadora nacional do Entre Jovens, Graciete do Nascimento.


Análise 

Maria da Graça Von Krüger. Coordenadora da Associação Brasileira de Psicopedagogia Regional Espírito Santo

Essas atividades (que não fazem parte das matérias escolares) ajudam o estudante a perceber que ele é um ser como um todo. O aprendizado não depende apenas da parte cognitiva. É importante ressaltar que as pessoas têm muitas dimensões. Essas disciplinas dão a possibilidade de trabalhar essas dimensões. As escolas têm uma visão do que querem objetivamente, por isso não oferecem atividades ou disciplinas de forma "solta". Tudo deve ter um objetivo maior e claro para a escola. A proposta não pode ser encher o tempo da criança, mas fazer com que ela aproveite melhor o tempo que tem. As atividades extracurriculares também contribuem para a formação quando são encontradas fora do ambiente escolar. Essa é uma opção dos pais, que geralmente observam as competências e as habilidades do filho. Quando a iniciativa parte da família, o recomendado é que a criança ou o adolescente participe da escolha da atividade com mais envolvimento. O importante é deixar claro que ninguém é uma pessoa na escola e outra fora da escola. O estudante é a mesma pessoa, e todas as ações que ele faz – na escola e fora – vão refletir no seu crescimento.


Crianças precisam ter tempo livre 
Para professores e pedagogos, a participação em projetos fora da sala tem uma regra: no caso das crianças, a agenda deve sempre prever um tempo para as brincadeiras.

"Se a gente vivesse numa época em que elas tivessem um espaço para correr, pular, saltar, até falaria que não precisariam de atividades extracurriculares. De toda forma, acho que a criança deve ter um tempo livre", opina a psicopedagoga Cybele Meyer. 

A supervisora da Escola São Domingos Kristine Bernardina ressalta que há atividades específicas para cada idade. "As saídas de estudo, por exemplo, acontecem desde que os alunos são pequenos, mas a distância e o tempo de permanência mudam de acordo com a idade", destaca.


Até "reunião da ONU" vira atividade 
Se as atividades extracurriculares tinham o propósito de desenvolver a consciência corporal ou as habilidades artísticas, hoje não faltam opções para despertar a responsabilidade social. 

É o caso da simulação de encontros da Organização das Nações Unidas (ONU) realizada em escolas como Salesiano e Centro Educacional Leonardo da Vinci, que serve de base para a discussão de problemas em países. 

"Os jovens têm que saber que o mundo é para todos, que é preciso compartilhar. Para isso, não basta doar brinquedos a um orfanato. Trabalhar consciência social é muito importante", frisa Maria da Graça Von Krüger, coordenadora da Associação Brasileira de Psicopedagogia Regional Espírito Santo.


Projeto prevê aulas obrigatórias 
A obrigatoriedade do ensino de música é a prova de que as atividades desenvolvidas fora da sala de aula merecem ser vistas como algo maior que um passatempo. A Lei nº 11.769, de 2008, determina o ensino de música para todas as escolas de educação básica até o próximo ano.

O objetivo é desenvolver habilidades como a criatividade e a concentração dos alunos. No Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), as aulas de música nunca foram brincadeira. Não é por acaso que a escola tem um coral e uma orquestra respeitados. 

"A música contribui para a formação dos alunos, estimula concentração e coordenação motora e agiliza o raciocínio", diz o maestro Célio Paula da Costa, que comanda a orquestra, criada há 25 anos.

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